quarta-feira, 27 de outubro de 2010

"LARANJA MECÂNICA"


Como poderia falar desse filme? “Laranja Mecânica”. Será que seu título já apontaria algum ar psicodélico relacionado? A laranja ácida, cor vibrante que descombina e combina. Chamativa. Entretanto, o que seria combinar e por que descombinar? O “mecânica” estaria pra dar um suporte ao laranja ou para escancarar uma sociedade tecnocrática, administrada, com seus aparelhos repressores ou também os repressores ideológicos? Em momento de política, não apenas uma política partidarista ou governista, mas a política como toda ação da política, o filme não se isenta de abordá-la, de ressaltá-la e criticá-la. Não sei se o cerne seria a lógica da contradição, uma dialética e retórica da própria sociedade ou a forma que ela sempre se fez, sempre aderiu, apenas com novos retoques e maquiagens que fazemos pensá-la do contrário (administrada, com normas, leis, segurança, cargos, estruturas, entre outros). Uma sociedade, onde no filme, delinqüentes matam, estupram, roubam, se divertem, cantam, se sensibilizam (nem sei se delinqüentes, posso está usando esse termo de maneira agressiva para com os personagens do filme, tanto por conta das mais extremas atrocidades que a sociedade já viu, como pela “posição social” destes no filme poderia fazer com que eu diminuísse o tom). Não sei de fato, o porquê do estranhamento de muitos e nem o motivo da agressão que acham que perpassa o filme, só por conta dos atos rebeldes adolescentes, de perversidade e violência, que não podia acontecer numa sociedade “perfeita”. Algo bastante interessante que me perturbou no filme é o “tempo”. Não se sabe qual o tempo, se progressista-linear ou cíclico, não entrando também numa discussão destes, nem de tempo histórico, porém, se é uma realidade que se passou que se resolveu ou que está por vir e as formas de condutas e punições que serão adotadas para com indivíduos “irregulares”. Essa toda orquestra canta e gira em torno de Alex, líder da gangue, sádico, libertino, liberto (talvez a própria liberdade liberal que a sociedade liberalista deixa parecer, mas que não se omite por meio de sua repressão, dos seus aparelhos, da estratificação social e da sua liberdade de consumo das coisas que permite e muitas das vezes do consumo da própria identidade dos indivíduos, controlando-os) e destrutivo. Esses comportamentos são calos de muitos estudiosos, curiosos, entre outros, pois afirma as discussões a respeito do que seria identidade, a busca de uma identidade, sem contar que ressalva de forma implícita a sexualidade, o papel social da família e algo que atinge muitos, a religião. Como Alex e sua gangue, não são nada que a sociedade espera de adolescentes “normais”, sem contar que seu próprio “meio”, seus “amigos” permitem e arquitetam numa dessas suas aventuras sádicas, que a polícia o detenha, o garoto Alex (como é bastante ressaltado no filme) é preso e passa às normas instrumentais criadas pela sociedade. O jovem desconhece esse controle social, que tal sociedade o disponibilizou por muito tempo a liberdade, sem contar o prazer desfrutado pelo garoto ao longo do filme. Seria o mal estar na civilização, discutido por Freud, daí também o teor psicológico do filme. A busca incessante pelo prazer, pela felicidade, sem saber qual seria a felicidade ou qual felicidade de fato queria. Na prisão, o jovem recorre à bíblia, aos valores, a Deus. Cria-se na prisão uma espécie de cura, uma psicoterapia feita com o jovem, para ter enjôo quando for violentar alguém, quando for cometer agressões, uma persuasão estadista e policial (diferentemente da persuasão de Nietzsche, que propõe justamente a refundamentação dos valores e que destrói os valores estabelecidos) para ceder e “controlar-se socialmente”. Por isso a lógica da contradição, como não se proteger, como criar essa limitação ao jovem se ele tem que se proteger das agressões e violência que a própria sociedade perpassa e que faz parte da rotina social? O filme traz todos esses levantes de violência, alienação, estratificação, os valores liberais, religião, desprazer, prazer, pois são mascarados e esquecidos, como se fossem assuntos surreais, principalmente na contemporaneidade. E como é bastante levantado pelo garotinho Alex, os “Horrores-Shows” que eles faziam, existem muitos horrores-shows ou show de horrores hoje em dia, tão escancarado pelo filme e que não podemos nos isentar de refletirmos e fazermos uma autocrítica. Fica a dica.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

O que é científico?... De fato não serei eu quem irá definir por completo ou o certo ou o errado, mas pelo o que já li e dizem muitos estudiosos, podemos falar algo a respeito.





O que é científico?

Um cientista, o que ele faz? A ciência é cega, surda, muda e sem percepção para com o que ela não abarca, ou seja, diante de algo que não seja real, verdadeiro e comprovado. De fato um cozinheiro cozinha, o jardineiro cuida do jardim e o barbeiro corta cabelo e barba, entretanto, estão intrínsecas ao cientista as teorias de experimentação, propondo declarações, ou sistemas de declarações, testando passo a passo, como já foi definido por Karl Pooper, um filósofo da ciência que estuda o que um cientista faz.
Em falar do filósofo Pooper, por que o seu estudo é designado por Filosofia da ciência e não somente filosofia? A filosofia não é ciência. Por mais que abarca muito mais, demasiadamente tantas e tantas áreas do conhecimento, traçando o caminho e iluminando as buscas científicas, indo além da ciência, não é ciência. O cientista trabalha com teorias e hipóteses, mas que sejam matemáticas, definidas e verdadeiras. A filosofia questiona tudo, às vezes parece ter solução para tudo, no entanto, muitas das vezes, senão na maioria das vezes, não consegue sistematizar, classificar e definir, fugindo e não segurando o que a ciência quer, verdades definidas e comprovadas. É aquela relação de Manoel de Barros: “A ciência pode classificar e nomear os órgãos de um sabiá, mas não pode medir seus encantos”.
A centopéia nunca se atrapalhou ao andar com as suas tantas pernas, porém, a partir do momento que foi questionada, se ela já tinha indagado sobre qual perna ela mexia primeiro, ao andar e pensar, ficou paralítica. O cientista não pode agir de maneira apenas natural e automática, como faz as centopéias, sem se dá conta do que está sendo feito, do que está a sua volta. Mesmo que fique paralítico, mesmo que fuja do jogo dos sentidos, ele não pode dissimular, enganar e fugir das imagens fiéis da realidade. As palavras são os olhos da ciência. Não as palavras do jogo de risos das piadas, ou das imposições de um sargento para com os seus soldados, mas as palavras no jogo de linguagem do cientista, não quaisquer palavras, mas aquelas que a ciência consegue segurar, deixando passar aquelas que a ciência não pode dizer.
O que o cientista faz e tenta assegurar, portanto, são os reflexos da realidade, as declarações ou sistemas de declarações num jogo de palavras que são passíveis de comprovações, métodos, classificações e sistemas precisos; cego para o que não se consegue “pegar” e que sejam necessárias outras redes para abarcar o que cai, mas que assegure o jogo da ciência, o qual o cientista joga.

Para inaugurarmos este blog, vai a canção que pariu sua existência...

OS ANJOS 
LEGIÃO URBANA
Hoje não dá
Hoje não dá
Não sei mais o que dizer
E nem o que pensar
Hoje não dá
Hoje não dá
A maldade humana agora não tem nome
Hoje não dá
Pegue duas medidas de estupidez
Junte trinta e quatro partes de mentira
Coloque tudo numa forma
Untada previamente
Com promessas não cumpridas
Adicione a seguir o ódio e a inveja
Dez colheres cheias de burrice
Mexa tudo e misture bem
E não se esqueça antes de levar ao forno temperar
Com essência de espirito de porco
Duas xícaras de indiferença
e um tablete e meio de preguiça
Hoje não dá
Hoje não dá
Está um dia tão bonito lá fora
E eu quero brincar
Mas hoje não dá
Hoje não dá
Vou consertar a minha asa quebrada
E descansar
Gostaria de não saber destes crimes atrozes
É todo dia agora e o que vamos fazer?
Quero voar pra bem longe mas hoje não dá
Não sei o que pensar e nem o que dizer
Só nos sobrou do amor
A falta que ficou